segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Barbies

uma e outra boneca loura despida
pia vedada repleta de água e sabão
fazia verão na minha fantasia infantil
fazia verão e por quê não fazer nadarem as bonecas?
olhando suas silhuetas de mamilos duros feito pedras e seu sexo sem lábios
as bonecas louras despidas
fiz mergulharem os corpos secos
dentro da banheira improvisada
fiz com que se refrescassem de um calor imaginário
- uma por vez
enquanto enrugava meus dedinhos
sedentos das artes e engenhos de delirar
sim, eu passava as tardes de infância
inventando artes e engenhos de delirar.

sábado, 21 de novembro de 2009

Promesse de bonheur

a puta na orla da estiva
peitos de olhar o horizonte
decote vermelho
microsaia brilhante, tapando somente o inominável
entredentes um chicle cor de rosa - tutti-frutti forever
na mente um sonho opaco (sonhava posar de manequim nas passarelas da Europa)
mas descobriu os prazeres da carne
e fez deles o seu dever cotidiano
quem condenará a rapariga sonhadora?
quem atirará a vigésima terceira pedra?
cabelos negros como a asa da graúna
(são de aplique, esses cabelos
são cabelos de boneca)
olhos de um brilho esquecido
já opaco no sonhar distante
boca desenhada para só beijar.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

À espera (embarque)

formigas em torno do chicle mascado
dispensada borracha doce
mandíbulas de nunca mais
abrir
fechar
abrir
fechar
o tédio - um tédio feliz
se encostou em mim
nesta tarde
e não tenho em mim
queixume de natureza alguma
no dia de hoje
desde que acordei
com a leveza das nuvens
no pensamento.

sábado, 7 de novembro de 2009

Noite e dia

Eu dormia lenta e pesadamente enquanto a luz do luar clareava as desertas ruas e todos os atos secretos esperavam que o sol se deitasse para desembestar intenções de sexo e violência nos lares alheios. A flor que ao meio-dia tão lânguida e tímida, se abria sem pudores e em selvagem transe sensual ao som de remota serenata...Ali, onde acabava a noite e começava a madrugada, gotas de sereno iam molhar a pétala-face das flores e as pontas dos pés descobertos de algum mendigo errante jaziam gélidas e petrificadas de abandono...Eu dormia lenta e pesadamente. Pálpebras amortecendo o fim do sono iam se abrindo aos poucos. E o despertar ia se fazendo urgente. E a constatação de um novo dia era a minha única certeza nesta vida.