quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mais arrebatamento

me explica
me ensina:
como não me apaixonar por você
como não te deixar entrar no coração
suas cores - as do seu pincel
já moram no meu peito
gotinhas coloridas pingam alegria nos meus olhos
é lembrar de você
e quase chorar
e rir de repente
de tudo e nada
cãozinho revirando o lixo
olhinhos de dizer: "me dá carinho"
nossos corpos estão separados
por lugar e tempo indefinidos, extensos demais...
a luz do seu sorriso nas fotografias
me alimenta de sonhos
me flutua
e volto a ter sete anos
e fazer bolinhas de sabão
gotinhas de detergente pelo carpete
do apartamento...eu crescia um pouquinho todo dia
mas o sonhar calmo e colorido ainda mora em mim
ainda sou a mesma menininha de sete anos
debruçada na cama de minha mãe
lendo gibi.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Arrebatamento

Acho que já sei amar
pois quando te vi
pela segunda vez
te notei a beleza quase infantil
e canonizei você
no templo do meu coração
que é tão vagabundo.

Azul calcinha

O céu azulzinho
esta manhã fiquei contemplando
e pensando
no quanto eu queria
que nossos olhares novamente se encontrassem
no quanto eu queria
te ver sorrindo outra vez
só pra mim
daquele seu jeitinho de sorrir
que me encantou
de uma vez pra sempre.
A janela foi fechada tardiamente, por isso os mosquitos em bando,noite adentro, vão me massacrar ouvidos e corpo. Já posso ouvir seus zunidos penetrando meus tímpanos sensíveis de insônia involuntária. Vou dormir pensando em você. Nos nossos olhos se encontrando e no seu riso que é o mais puro mel.
Nossos caminhos: será que estão predestinados ao desencontro?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cacos d’ águas

A Verônica Moraes



Corpo, de Barros, quebrado.
Manoel de. A lagartixa bebe água
na sombra da galinha.
Patinha de meias rosinhas.

Corpo sem cabeça.
Braço em cima da mesa.
Pontos, vírgulas e apostos.
Tontura de pescoço que dançam
nos andaimes da construção
de Cabral , o João.

Fragmentos de comunicação.

Quebranto e Quebradas .
Cacos d’ águas .
Desperta o moderno despertador,
De noite, do galo e das fadas.

Na sombra, um dos touros de Picasso
Enfrenta, enfurecido, um tecido vermelho
Que se vê ao longe, voando, ao acaso.




Inaê Sodré 22.05.08

Helenística

A minha amada, Anjo maduro, Hélène Lamesch.



Eu quero tudo
E ainda quero mais
Tenho Sede de mundo.
Fome de infinito.

Se me deres, aceito.
Se me tomas,
Eu grito.




Inaê Sodré, 15-03-09

A terça parte do corpo

A Fabio Vidal



O filho pequeno atento
Andou pelo fio do tempo
Passou pela curva do vento
Estando no mesmo lugar

O ciclo do tempo girando
Rodando em volta do mundo
Vivendo num sono profundo
Sem ver o tempo passar

A terça parte do corpo
Plantada no meio do rio
O menino pequeno, o menor, o caçula,
O único que o viu, Rio.



Inaê Sodré, maio de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Declaração virtual de sentimentos

Veja, meu bem, estou tentando não ser cruel...tentando não impor minha presença. Eu nem sei quanto tempo faz que não procuro você na "net" ou ao vivo. Sei onde te encontrar, mas não procuro. Então vamos ficar assim, como já foi combinado: perfis "ausente" e "ocupado", no mais perfeito alheamento. Que bênção essa tal de internet na vida da gente, meu bem! Ela foi feita para aqueles desconcertantes momentos em que não se tem nada a dizer ou quando a maldita timidez sabota nosso inventário lexical. Com isso não quero dizer que estou melhor assim, sem notícias suas. Apenas quero que essa lacuna espacial nos aproxime de uma vez para sempre. O que quero é que você diga que estou sendo totalmente tola e num abraço demorado mate minhas dúvidas e minha saudade.

Seção de meras observações

As anti-macabéas estão por toda parte. Promovem desfiles de moda que só elas podem acompanhar. A moda é feita por elas e para elas. Para “causar” nas passarelas e também no passeio público. Por isso hoje você vê tanta propaganda de creme e batom, bolsa e sapato e lingerie sensualzinha. Eu quase esqueci do rímel e da milagrosa tintura. E não pode faltar o esmalte de unha de cor fatal. Os filmes publicitários mostram marmanjos sendo arrastados, atraídos por estranho ímã invisível que emana do requebro dos quadris e das caras e bocas das anti-macabéas. E seguem fazendo sucesso. Uma autêntica anti-macabéa nunca está satisfeita com seu visual. E o visual é, de fato, a sua única grande preocupação.