sábado, 15 de agosto de 2009

quem sou eu:

deixo isso para mais tarde.
por enquanto fica assim: deixo os óculos de pernas abertas sobre a mesa, fecho a janela do quarto e deito pra esquecer o quanto a vida é bela.

você, meu bem, me traz notícias de um lugar distante. e eu só queria notícias suas. mas como nada é perfeito quando feito por gente, escuto suas palavras. palavras refrigeradas, sem calor de emoção. e novamente as notícias não me interessam. o Brasil não tem remédio, baby. o Brasil é beleza e caos.

quantos dias faz que não sonho? anteontem sonhei. não lembro com o quê. não sei se era bom, mas eu sempre quero voltar para os sonhos - mesmo para os sonhos ruins - que é pra entender um pouco sobre quem sou e coisa e tal. você entende?

não sei. hoje me sinto um último gole desprezado de vodka.

eu absinto.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Coração em chamas

Um coração trespassado
ao clarão das chamas
da churrasqueira
chia e lacrimeja
O coração
trespassado e temperado
chiando ao sabor das labaredas
devia bater descompassado
num peito galináceo
devia quase pular pela boca
ao menor susto
Este coração posto na travessa
ao lado da porção de farofa
agora desmancha suas fibras
entre meus dentes e língua
Coração que nunca bateu de amor
Agora me bota água na boca.

Alucinação

Nunca vi paredes derretendo
mas ouvi tua voz macia
dentro da noite me dizendo
eu te amo
como quem diz boa noite.

Louvor

Deus está nas prateleiras
nas gôndolas de doces dos supermercados
Deus é um quindim
um bombom
um papo-de-anjo
O que você quiser
Deus é
Deus é a balconista
da loja de sapatos
que recebe sorrindo
nosso cheque sem fundos
Deus é um pelo encravado
na virilha de uma puta velha
Deus é minha avó
que já não enxerga nem ouve tão bem
mas ainda está tão lúcida
Deus é meu cágado
e passeia pela área de serviço
sem pressa nenhuma de chegar debaixo do tanque
Deus é um perfume barato
impregnado na pele
das empregadas domésticas
que pegam condução lotada às seis da manhã
rumo à casa das patroas sempre estressadas
Deus é o suor
que faz uma rodela
embaixo da manga da camisa
do operário de construção civil
Deus não é filme porque não começa nem acaba.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Poema-obsessão

Pousei os olhos em tudo de você
e admito, vencida, que não reconheci
em lugar nenhum
algo parecido com a cor dos seus olhos
ou com o brilho do seu riso - quando vem espontâneo
Como poeta, procurei metáforas que te traduzissem
e frustrada, volto ao marco zero: contemplar você
Esse devia ser um poema de amor, romântico
Mas parece mais um poema-obsessão
fruto maduro
da minha doce fixação
pelo olhar que me penetra e derrete
E a culpa disso tudo, baby, é só sua.