quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Louvor

Deus está nas prateleiras
nas gôndolas de doces dos supermercados
Deus é um quindim
um bombom
um papo-de-anjo
O que você quiser
Deus é
Deus é a balconista
da loja de sapatos
que recebe sorrindo
nosso cheque sem fundos
Deus é um pelo encravado
na virilha de uma puta velha
Deus é minha avó
que já não enxerga nem ouve tão bem
mas ainda está tão lúcida
Deus é meu cágado
e passeia pela área de serviço
sem pressa nenhuma de chegar debaixo do tanque
Deus é um perfume barato
impregnado na pele
das empregadas domésticas
que pegam condução lotada às seis da manhã
rumo à casa das patroas sempre estressadas
Deus é o suor
que faz uma rodela
embaixo da manga da camisa
do operário de construção civil
Deus não é filme porque não começa nem acaba.

Um comentário: