sexta-feira, 17 de abril de 2009

Destino de galinha

Fico pensando na vida triste das galinhas. Elas nascem para botar ovos e virar comida nos pratos dos homens ao meio-dia. Ou então, gloriosas, compõem a ceia natalina. Galinha nasce pinto e não tem muito futuro pela frente: cisca o chão debilmente, para catar milho, minhocas e pedras. Seu olhar é sempre ansioso, tudo é surpresa e susto no olhar da galinha. Ela não sabe o que é tédio, porque nunca ninguém ensinou. Galinha, como todos nós, morre qualquer dia desses. Nunca vi galinha velha, todas as que conheci deixaram este mundo cedo demais. Todas morreram jovens e nenhuma teve consciência do próprio destino. Na infância, os homens criam cães e gatos e até periquitos a quem chamam de amigos. Mas galinha está relegada ao terreiro: se põe bons ovos, é preservada da morte prematura. Galinha quase sempre morre assassinada. "É por uma causa maior", dizem as visionárias. No céu das galinhas ninguém vira almoço e só botam ovos quando querem. Mas até lá elas estão condenadas a desconhecer o porvir.

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