terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um dia desses

Ela andava olhando pra baixo, a todo vapor, pelas ruas estreitas do centro da cidade. Do centro imundo da cidade barroca. Eu segui aquele vulto, até onde a vista alcança. Tropeçando nos sacos azuis e negros, repletos de sobras de alimento, absorventes encharcados de regras anônimas, papeis higiênicos e suas denúncias. Andei pelo centrão da cidade só pra ver até onde ia aquele vulto compenetrado de mulher pequena com rabo de cavalo como penteado para aquelas tardes de calor. E distraída, ao atravessar uma ruela, dei de cara com um ônibus fazendo a curva apertada. Quase virei patê de poeta. Quase não estava mais aqui pra contar a história do dia em que segui uma pequena pelas ruas do centro sujo da cidade barroca. Ela e seu vulto pressentiram a quase tragédia. Seu olhar cabisbaixo se voltou e sorriu - um riso de mulher pequena. Um riso zombeteiro. Assim assim. Riso de quem já viu e verá muitas tragédias cotidianas. A multidão de crentes nem acreditou no milagre da salvação. Até o motorista sonolento pediu perdão! Não fiz caso e continuei a perseguir aquele vulto de camiseta azul e calça jeans e rabo de cavalo pelas ruas do centro cheio de histórias da cidade. A mulherzinha foi entrar num prédio antigo. A mulher pequena que eu segui pelas ruas fétidas do centro tinha hora marcada, como eu, com os guias do plano espiritual. Para reza, passe, desobsessão. Para começar a semana seguinte sem encostos do além.

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